Água e coronavírus são uma dupla inseparável no contexto desta pandemia. Porque o uso da água com sabão é a ferramenta mais poderosa para evitar novos contágios. Hoje contamos-lhe como durante anos ajudámos as comunidades rurais de Moçambique a enfrentarem riscos como os que atualmente vivemos em todo o mundo.
«Nascer num lugar determinado, para quem nasce, é sempre um acaso», cantava Maxime Le Forestier. Nascer em Moçambique significa ter 7,3 % de possibilidade de morrer antes dos cinco anos, cerca de 60 % de probabilidades de viver abaixo do limiar da pobreza e uma esperança de vida de cerca de 60 anos.
Antes da pandemia de Covid-19, Moçambique recuperava do impacto dos ciclones Idai e Kenneth, que atingiram o país em 2019. Estas catástrofes naturais provocaram avultadas perdas materiais, colocaram mais de dois milhões de pessoas em dependência de ajuda humanitária urgente e obrigaram ao deslocamento de 140 000. Atualmente, ainda existem famílias a viver em abrigos temporários.
Ao impacto da Covid-19 e dos ciclones junta-se agora um novo obstáculo: a crescente violência em Cabo Delgado, situação que está a forçar mais de 435 000 pessoas a abandonar as suas terras.
O impacto sanitário e socioeconómico do coronavírus agravou uma situação já por si complicada. Desde março de 2020 detetaram-se em Moçambique mais de 11 700 casos e morreram 82 pessoas devido à Covid-19. Para conter a propagação do vírus, o governo moçambicano decretou em março o estado de emergência, que foi levantado a 6 de setembro. Durante este período os atos públicos estiveram proibidos, as escolas e as fronteiras fechadas e o movimento de pessoas limitado.
Desde 9 de setembro o país encontrou-se em estado de «Calamidade Nacional» até data por determinar. Esta mudança no estado de emergência anterior significa medidas menos restritivas, planos de reabertura das escolas e menores restrições à mobilidade no país.
A maior parte dos moçambicanos e moçambicanas vivem em comunidades rurais, nas quais o acesso a serviços essenciais como a água potável — tão necessário neste momento para restringir os contágios de coronavírus — é limitado. Na comunidade de Nacuca, na província de Cabo Delgado, situada no norte de Moçambique, vive Lucinda António com o seu marido e filhas. A Ajuda em Ação trabalha nesta região desde 1997, na qual a construção de fontes de água potável tem sido até agora uma das nossas principais linhas de trabalho.
«Antes não tínhamos água potável na nossa comunidade, todos os dias tínhamos de percorrer cerca de 10 km até chegar ao rio Lurio. Daí trazíamos a água que precisávamos para beber, cozinhar, para a nossa higiene e limpezas. Era assim que fazíamos até a Ajuda em Ação chegar. Como noutras aldeias da zona, a organização construiu aqui um poço de água potável e a partir daí, temos água segura. Estou agradecida à Ajuda em Ação e gostaria que construísse mais poços nas aldeias que precisem.»
Antes da chegada da Covid-19 a Ajuda em Ação procurou impulsionar várias ações destinadas a formar e sensibilizar os habitantes das comunidades sobre hábitos saudáveis de higiene pessoal.
«A Ajuda em Ação capacitou o Comité da Água da minha comunidade para que este mostre boas práticas e crie hábitos de higiene. Graças a esta iniciativa, reduziram-se muito as doenças na nossa aldeia e a nossa saúde melhorou muito», comenta Lucinda.
Um trabalho de prevenção de riscos permite reduzir o número de contágios por coronavírus nas zonas em que a Ajuda em Ação trabalha em Moçambique.
Desde março, pusemos em marcha uma série de iniciativas para conter a expansão do coronavírus. Entre outras ações, instalámos pontos de lavagem de mãos em zonas de grande afluência, distribuímos kits de higiene, aumentando a capacidade de resposta de vários centros de saúde em Cabo Delgado, e formámos pessoal de saúde.
Apesar das dificuldades, conseguimos proporcionar ajuda humanitária a pessoas deslocadas por diferentes questões, garantindo o seu acesso a assistência de saúde, água potável e roupa.
Parte do nosso trabalho consiste em analisar o contexto e necessidades das comunidades. Apenas desta forma poderemos proporcionar-lhes as ferramentas e os meios necessários para que os seus habitantes vivam com dignidade e tenham os seus direitos garantidos.
Por vezes as circunstâncias mudam drasticamente, como pudemos comprovar com a irrupção dos ciclones ou do coronavírus. O trabalho prévio que fazemos é chave para assegurar uma capacidade de adaptação a novos cenários com a finalidade de que a nossa intervenção continue a ser de utilidade para as pessoas que dela mais necessitam. Em Moçambique e em mais de 20 países de todo o mundo #SomosAjuda.