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As brechas educativas condenam à pobreza

03-11-2020 Leitura 4 Minutos 3

Ajuda em Ação

A escola já contava com uma série de brechas educativas e barreiras que tornavam difícil ou impossível quebrar o círculo de pobreza. Num mundo em que 258 milhões de menores de idade nunca frequentaram uma escola, a crise da Covid-19 não faz mais do que aprofundar estas falhas.

Hoje analisamos quais são as barreiras e fossos que tentamos travar com o nosso trabalho em mais de 20 países no mundo inteiro. O objetivo do nosso trabalho ao nível da educação? Salvar da pobreza toda uma geração.

Barreiras de acesso e permanência

#1 Cobertura deficiente, falta de infraestruturas educativas básicas e fosso digital

A principal barreira que encontramos nos países em desenvolvimento é a ausência de escolas, de docentes e de materiais básicos para o ensino. Mas também encontramos escolas ao ar livre, sem assentos, sem mesas, sem aquecimento. Estas são escolas que encontramos diariamente e que não têm condições sanitárias suficientes ou que se encontram as distâncias impossíveis (e muito perigosas quase sempre) para que uma criança possa ir a pé. A tudo isto – como se fosse pouco – junta-se uma outra barreira: a pouca ou nula infraestrutura digital.

#2 Barreiras económicas

Barreiras à educaçãoSem dúvida, a pobreza é um dos fatores mais excludentes e uma das principais barreiras impostas a milhões de pessoas para aceder e permanecer nos sistemas educativos. Os custos diretos e indiretos associados (transportes, material, uniformes, refeições escolares, lazer educativo, etc.) fazem da educação um luxo para milhões de famílias que não contam com os recursos básicos para subsistir.

#3 Fracasso, reprovações e abandono escolar

A má qualidade do ensino que não garante saídas profissionais dignas e que também não assegura recursos suficientes para apoiar os alunos com maiores dificuldades. Tudo isto leva a que muitas crianças e jovens fracassem na escola, repitam anos, desmotivem-se e acabem a abandonar a escola e a sua educação. E depois o que é que acontece? Normalmente, quem abandona a escola prematuramente encontra trabalhos precários ou ligados à economia informal, o que lhes dificulta a saída do círculo de pobreza.

Barreiras na qualidade educativa

Uma educação de qualidade é aquela que disponibiliza as ferramentas necessárias para aceder a mais e melhores oportunidades. Mas é também aquela que permite viver uma vida plenamente consciente e que mereça a pena ser vivida. Dentro desta barreira, encontramos vários pontos a ter em conta.

#1 Formação e motivação dos docentes

Sem professores não há educação. Mas a qualidade educativa depende diretamente da possibilidade de ter docentes formados, motivados e justamente remunerados.

#2 Gestão educativa

As barreiras na gestão educativa impedem, em muitas ocasiões, que as escolas sejam um pequeno motor de dinamização social, cultural e económica das comunidades em que se integra.

#3 Programa curricular

O programa curricular não inclui os conteúdos e as competências necessárias para enfrentar os desafios atuais do planeta. Num mundo diversificado, inclusive em espaços geográficos mais pequenos, a qualidade educativa implica reconhecer e refletir essa diversidade e adaptar a oferta educativa. A pertinência do programa é um fator chave para evitar o abandono e a reprovação e, por fim, promover a conclusão com êxito do percurso educativo.

#4 Fosso digital

O nosso mundo já é digital e a tecnologia está a mudar a nossa vida. Isto abre um novo fosso no campo da educação. Possuir ou não estes conhecimentos é determinante para garantir o acesso a uma série de oportunidades que podem melhorar a nossa vida (emprego, questões administrativas, etc.). Esta brecha digital é maior entre países mais ou menos desenvolvidos, mas também se expressa na desigualdade interna e crescente dentro dos próprios países.

Brecha de inclusão

Só uma educação inclusiva é compatível com os direitos humanos. Esta inclusão deve dar resposta às diferenças de acesso e permanência baseadas em fatores como a pobreza, género, etnia, deficiência, língua, religião, migração ou abrigo, lugar de residência ou nascimento, orientação sexual ou expressão de identidade de género. Todos estes fatores são discriminatórios na maioria dos casos e são determinados pelo nosso nascimento.

A inclusão na educação leva a melhores resultados académicos, melhora o desenvolvimento social, emocional, a autoestima e a aceitação da diversidade e ajuda a prevenir a estigmatização, os estereótipos e a crescente polarização social. Tudo isto alimenta discursos de ódio e fomenta a xenofobia, o racismo ou a homofobia.

Brecha de género

A brecha de género afeta não apenas a meninas e jovens alunas, mas também as docentes, diretoras das escolas e mães.

#1 Acesso, permanência e aproveitamento desiguais nos diferentes níveis educativos

Normas culturais e práticas sociais persistentes impedem que as meninas frequentem a escola. Entre elas podemos mencionar a pouca importância que se dá à educação das raparigas, os casamentos precoces, a insegurança nas escolas e no caminho até lá e as pesadas tarefas domésticas que recaem, geralmente, nas mulheres e raparigas. Isto gera não só maiores dificuldades de acesso e permanência na escola para as raparigas, como também uma menor disposição de tempo para lazer em relação aos seus pares do sexo masculino.

#2 Valorização desigual do sexo feminino e masculino na educação

Encontramos sistemas educativos que não alterarem planos de estudo nem formaram docentes em matéria de sensibilização acerca das desigualdades de género. A expetativa do que a educação pode trazer às mulheres é, em muitos casos, distinta daquilo que ela pode trazer aos homens e rapazes.

Desigualdade de género na educação

#3 Participação desigual de mulheres e homens na educação

Como já referimos, existe uma menor participação de mulheres docentes e gestoras na elaboração dos planos de estudo. Mas também há uma participação desigual entre mães e pais no seio das comunidades educativas. Se, por um lado, são maioritariamente as mães quem se envolve nas atividades escolares, por outro, a sua capacidade de decisão é menor e é percebida como uma tarefa exclusivamente feminina em muitos lares, o que se traduz numa carga extra para as mulheres.

Brecha de financiamento

Segundo as Nações Unidas, antes da irrupção mundial da Covid-19, já se estimava que os países com rendimentos baixos e médios enfrentavam uma brecha de financiamento da educação de 1,5 biliões de dólares anuais. Não se trata apenas de aumentar as verbas nacionais e as de cooperação internacional relativas a esta matéria, mas também de incrementar o financiamento de projetos que lutam diretamente contra a pobreza. As medidas de proteção social direcionadas para os grupos mais vulneráveis permitem melhorar os índices de frequência e permanência na escola.