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Como a igualdade de género pode promover a resiliência climática e fome zero

18-10-2024 Lectura 4 Minutos 3

O relatório do Global Hunger Index 2024 destaca a alarmante sobreposição entre a fome e a desigualdade de género, salientando que são as mulheres e as meninas que enfrentam os maiores riscos em termos de segurança alimentar e desnutrição. Apesar da ligeira melhoria na pontuação global do índice, que se situa em 18,3, a realidade é que o progresso é insuficiente e estima-se que níveis baixos de fome não sejam alcançados até o ano 2160.

  • A violência e a discriminação de género agravam a insegurança alimentar, impedindo que as mulheres tenham acesso a recursos fundamentais. Em regiões afetadas por conflitos, como Gaza e Sudão, a situação é ainda mais crítica, com uma diferença de segurança alimentar de até 19 pontos percentuais entre homens e mulheres em algumas áreas.

  • As mudanças climáticas também intensificam as dificuldades para as mulheres, que são as principais responsáveis pela agricultura e pela alimentação familiar. Iniciativas como a promoção da produção de hortaliças ecológicas em comunidades rurais demonstraram que o empoderamento das mulheres pode transformar suas vidas e suas comunidades.

  • O relatório enfatiza a necessidade urgente de incorporar a perspectiva de género nas políticas alimentares e garantir que as mulheres tenham acesso a recursos e espaços de tomada de decisão. A justiça de género é essencial para abordar a fome global e promover sociedades resilientes.

 

Segundo o Global Hunger Index 2024, um relatório anual, além de atualizar o índice de fome no mundo, realiza este ano uma análise sobre a variável de género, destacando que a discriminação e a violência de género estão agravando a insegurança alimentar, impedindo que as mulheres tenham acesso a recursos básicos como alimentos e terras.

A fome e a insegurança alimentar são um problema mundial, e com principal incidência em países em desenvolvimento e afetados por conflitos atuais, sem esquecer as alterações climáticas, como podemos ver pelo Índice Global da Fome deste ano. Os dados do GHI 2024 destacam ainda  uma situação alarmante em vários países, com 42 nações enfrentando níveis críticos de fome. Somália, Iémen e Chade estão entre as mais afetadas pela desnutrição e pela subalimentação.

Na África Subsaariana, a região mais afetada, o progresso na luta contra a fome tem sido praticamente nulo desde 2016. A América Latina e o Caribe também viram um deterioração na segurança alimentar, impulsionada pela inflação dos alimentos e por condições de dívida severas.

Os conflitos prolongados em lugares como Gaza e Sudão agravarão essas crises, enquanto no Haiti e na República Democrática do Congo, a insegurança alimentar intensificou-se devido à instabilidade política, à violência e às mudanças climáticas. Essa situação exige uma atenção urgente e esforços coordenados para abordar as causas subjacentes da fome e da desnutrição.

No índice Global da Fome indicamos que a diferença alimentar entre homens e mulheres pode atingir 19 pontos percentuais em alguns destes países. Sendo que as mulheres pobres, rurais, migrantes, refugiadas ou com emprego informal são ainda mais vulneráveis.

O Diretor Nacional da Ajuda em Ação Portugal, Mário Baudouin afirma que “A poucos anos da meta FOME ZERO definida pelas Nações Unidas, temos de entender que a desigualdade de género persiste, o que agrava uma situação de fome e de insegurança alimentar entre as mulheres porque são um grupo que se vê com maiores dificuldades no que diz respeito a trabalho formal e salários justos. São muitas vezes elas as cuidadoras da casa e responsáveis por trabalho não doméstico o que perpétua um ciclo de pobreza e fome. Na Ajuda em Ação trabalhamos com mulheres africanas que vivem em Portugal (na zona de Camarate, Loures) e damos-lhes ferramentas para combaterem uma situação informal e conseguirem viver dos seus rendimentos para fazer face à uma situação de fome e pobreza. Garantir o acesso das mulheres ao mercado de trabalho, através de políticas que as defendam, é um dever de todos – organizações, governos, entidades – e pode impedir que voltemos a estar acima da média na Europa de Sul no que toca a insegurança alimentar moderada ou severa (mais de 12% em 2020 e 2022, de acordo com os últimos números da FAO).”

 

O relatório destaca ainda o papel da igualdade de género na resiliência dos sistemas alimentares e a nível climático.  Se por um lado ainda persiste uma grave desigualdade de género que faz com que as mulheres continuem a ser mais afetadas pela inseguranças alimentar e pelos efeitos da crise climática, o IGF 2024 deixa-nos também algumas pistas sobre de que forma a justiça geracional e a igualdade de género podem ajudar a garantir sistemas alimentares equitativos, sustentáveis e resilientes que assegurem o direito a uma alimentação adequada para as gerações atuais e futuras.

O Índice Global da Fome é uma ferramenta projetada para medir e rastrear de forma abrangente a fome e comparar os níveis de fome entre países e regiões. O GHI é publicado anualmente desde 2006, inicialmente pelo IFPRI e Welthungerhilfe, e desde 2007 também pela Concern Worldwide. A partir de 2018, é publicado pela Welthungerhilfe e Concern Worldwide, no âmbito da plataforma internacional Alliance 2015, da qual a Ayuda en Acción Espanha e Ajuda em Ação Portugal fazem parte.

Faça o download do sinopse traduzida para português pela Ajuda em Ação AAFF_PT_GHI_2024_Sinope

Relatório completo em inglês 2024 GHI_full report.ING