Inovação no combate à emergência climática na Etiópia: o seguro pecuário

A Etiópia é um dos países do mundo mais afetados pela emergência climática. Água potável, formação, sensibilização, comercialização, educação… São muitas as formas com que apoiamos as famílias mais castigadas pelos seus efeitos. Hoje queremos dar-lhe a conhecer uma das nossas ferramentas mais inovadoras: o seguro pecuário.

Seguro pecuário na Etiópia: um salva-vidas face à seca

Para muitas comunidades de Borena, na região etíope de Oromía, o gado é fundamental para combater a pobreza e a desigualdade. Possuir cabras, ovelhas ou camelos pode significar a diferença entre comer todos os dias ou passar fome ou entre ir à escola ou ficar em casa a trabalhar, mesmo sendo menor de idade.

Desde há vários anos que o país se debate com um inimigo que está a acabar com o gado etíope: a seca. Anualmente perdem-se entre 300.000 a 500.000 cabeças de gado devido à falta de água provocada pelo El Niño e por outros fenómenos climáticos extremos. Sem chuva não há água nem pasto, o que faz com que os animais adoeçam e morram, deixando milhares de famílias na corda bamba.

O seguro pecuário serve para que, perante os primeiros sinais de seca e falta de pasto, as famílias possam antecipar-se ao desastre e receber uma compensação monetária que lhes permita agir a tempo de salvarem os seus animais. De seguida, explicamos-lhe como funciona este mecanismo inovador.

O que é o seguro pecuário e porque é que é inovador?

O seguro pecuário que promovemos em Borena chama-se IBLI. Trata-se das siglas em inglês para “Index-Based Livestock Insurance”, que significa “Seguro pecuário com base em índices”. Graças a um sistema de satélite, o IBLI mede uma série de indicadores relacionados com os efeitos da seca.

Vejamos o exemplo de um indicador muito importante: a superfície de pasto disponível. Quando o sistema deteta que esta superfície está abaixo dos parâmetros normais, ativa um alarme de possível seca! A pessoa assegurada recebe então uma compensação monetária que lhe permite reagir a tempo de não perder o seu gado. Este dinheiro permite-lhe tomar decisões como contratar um serviço veterinário, comprar medicamentos ou alimentos ou, inclusive, migrar para outras regiões, entre outras opções.

Em suma, trata-se de evitar as perdas e não de esperar que elas ocorram. E é aqui que reside a vertente inovadora e o êxito deste seguro. O objetivo é acabar com os incentivos perversos de alguns seguros tradicionais onde, sob determinadas condições, os criadores de gado podem inclusive preferir que o seu gado morra para receberem um pagamento.

Próximos passos

Ainda falta muito para que este seguro pecuário se estenda a toda a Etiópia. Calcula-se que até ao momento cerca de 3.000 famílias tenham aderido a este mecanismo num país com mais de três milhões de criadores de gado afetados pela seca.

Na Ajuda em Ação trabalhamos para que cada vez mais pessoas possam proteger o seu gado com ferramentas como o IBLI. Graças a dois projetos recentes em parceria com a Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento conseguimos ajudar mais de 740 famílias a assegurar um total de 3.350 cabeças de gado. Mas os nossos esforços não ficam por aqui. A emergência humanitária na Etiópia mantém-se, pelo que continuaremos a trabalhar junto das famílias mais vulneráveis para que possam fazer frente aos desafios impostos pela crise climática.