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O desafio de levar água às comunidades mais remotas do Equador

22-12-2020 Leitura 4 Minutos 3

Ajuda em Ação

Levar água potável até às comunidades rurais mais remotas do Equador é um verdadeiro desafio. Apenas com o engenho, o esforço e a ajuda mútua de toda a comunidade é possível superá-lo, independentemente do quão íngreme é o terreno. A água é vida e o acesso a água potável é um direito universal e uma das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. O seu consumo proporciona inúmeros benefícios: previne o surgimento de doenças como a Covid-19, reduz as condições de vulnerabilidade, gera igualdade, melhora a alimentação e diminui a desnutrição infantil. Contudo, ainda existem mais de 2.000 milhões de pessoas no mundo sem acesso a água potável. E são precisamente as populações mais vulneráveis e que vivem em lugares mais pobres quem mais dificuldade tem em ter acesso à água. Hoje contamos-lhe como é que a Ajuda em Ação trabalha para levar água às comunidades mais remotas do Equador.

Levar água a comunidades remotas

“Era uma colina muito alta e tivemos de escavá-la com pás e picaretas porque não dava para utilizar outras máquinas”. É assim que Ángel Gámez, presidente do comité de água, descreve as dificuldades dos trabalhos para levar água potável a Maldonado, uma das comunidades mais remotas da província de Esmeraldas no Equador.

Esmeraldas é provavelmente a província mais rica do Equador e, incompreensivelmente, também uma das mais esquecidas. Não servia de nada aos seus habitantes estarem rodeados de água se nem sequer a podiam beber. Em 2018, a Ajuda em Ação pôs em marcha um projeto de abastecimento de água para estas famílias. Como em todos os trabalhos de cooperação para o desenvolvimento a longo prazo desenvolvidos pela ONG, a participação das comunidades vizinhas foi fundamental. As pessoas sentirem-se responsáveis e donas do seu desenvolvimento é crucial no processo de mudança. Fazer parte do projeto desde o início assegura o seu sucesso e permite manter e melhorar os equipamentos instalados no futuro.

Neste caso concreto, 120 famílias de Maldonado e arredores beneficiaram deste projeto. Mas levar água até ao topo de uma montanha não é tarefa fácil.

Ángel narra com um sorriso de orgulho e agradecimento como o esforço da comunidade e o trabalho em equipa foram fundamentais para garantir o acesso à água. “Deu muito trabalho a todos nós, aos meus companheiros, à comunidade, porque realmente demorámos seis meses até terminarmos. Foi bastante duro e houve muita entreajuda, as mulheres também vieram para nos ajudar. Começámos pouco a pouco a descer as colinas.”

Acesso a água potável

“Tivemos de trazer todo o material com cavalos. Enchemos os sacos e colocámos dois sacos em cada cavalo. Para aliviar o peso dos cavalos, as crianças vinham montadas neles só até à parte mais alta. A partir daí, arrastámos os sacos através de uma fila e assim conseguimos ir levando todo o material, mas a certa altura o caminho tornou-se mais difícil e fomos obrigados a arrastá-los também através do rio. Como não tínhamos dinheiro, pedimos ao proprietário da quinta onde o rio passava para nos deixar ajudá-lo com o trabalho da quinta em troca de nos deixar passar por lá. Foi difícil, mas conseguimos”.

A gestão social da água

A água é um recurso natural ao qual toda a gente deveria ter acesso, sem exceção. Contudo, milhões de pessoas continuam sem poder desfrutar deste recurso, muitas vezes, por causa de conflitos, mas também devido a acordos e à vontade de trabalhar entre quem a utiliza. Por essa razão, faz sentido envolver a comunidade – aqueles que usufruem da água, administração e governos locais – nos processos de execução, manutenção e distribuição da água. A isto chamamos a gestão social da água.

Esta abordagem baseia-se no respeito pela cultura e pelos valores das populações indígenas e rurais e pelas suas diferentes formas de se relacionarem com a natureza.

Os sistemas de água são construídos tendo por base as mingas (derivado da palavra minka em quéchua e diz respeito a uma antiga tradição de trabalho comunitário com fins sociais) e em torno desta cultura da minga que tem vindo a fazer parte da sua vida há décadas.

A pobreza como fator comum na falta de acesso a água potável

A pobreza é um fator comum nas comunidades rurais em que a Ajuda em Ação trabalha. No Equador, apenas 39% das famílias em ambientes rurais possuem água potável. Durante décadas, as comunidades rurais têm sido abastecidas com água proveniente de nascentes, rios ou poços subterrâneos que não cumprem as condições mínimas de segurança. Isto afetou a saúde da população, em especial das crianças – a água é a principal causa dos problemas de desnutrição -, bem como a qualidade de vidas das mulheres e de toda a comunidade.

A construção e melhoramento dos sistemas de água representa uma mudança importante para as famílias de meios rurais, o que se traduz em impactes a diferentes níveis na vida comunitária. Ter acesso a água limpa e segura melhora a saúde e a alimentação, reduz as condições de vulnerabilidade das mulheres, melhora os ecossistemas e aumenta a preocupação com o meio ambiente. Além de tudo isto, também dignifica as pessoas e contribui para a participação cívica e o empoderamento.

Em resumo, não importa o quão difícil é levar água a qualquer comunidade remota ou distante: todo o ser humano tem direito a ter acesso a água potável para desfrutar de uma vida digna. A intervenção da Ajuda em Ação ajudou a melhorar a qualidade de vida de crianças, mulheres e de todos os membros da comunidade. Garantir o acesso à água consolida um direito que as comunidades rurais pareciam ter perdido.

*Este artigo foi publicado originalmente em espanhol, no site da Ayuda en Acción. Pode lê-lo aqui.