Carta de uma menina de 9 anos que tinha aulas virtuais sem Internet

Danna Sofía Morales é um exemplo das muitas crianças colombianas que não puderam assistir às aulas virtuais devido à falta de acesso à tecnologia digital. Agora faz parte do grupo de crianças apoiadas pela Ajuda em Ação que receberam um tablet para poderem assistir às suas aulas. Leia a carta escrita a partir da aldeia La Esperanza, do Valle del Cauca, Colômbia.

Queridos amigos e amigas:

O meu nome é Danna Sofía Morales e tenho 9 anos. Escrevo esta carta porque quero contar-vos como correram as minhas aulas sem Internet e sem equipamentos tecnológicos durante a pandemia. Vivo numa zona rural com o meu pai Jhon Freddy Morales, de 33 anos. Vivemos na aldeia de La Esperanza, no município de Ginebra e departamento de Valle del Cauca, na Colômbia, terra do Festival Mono Núñez, um evento de música andina, do bambu e do corredor colombiano mais importante do país. Durante a pandemia, estive sempre muito preocupada. Sinto-me muito inquieta e angustiada porque não posso sair de casa e tenho medo de que a minha família fique contagiada.

Em minha casa não há Internet nem computador. Por isso, as aulas virtuais não são uma possibilidade no sítio onde eu vivo. Estou dependente do meu pai para o carregamento dos dados móveis do meu telemóvel para aceder às minhas aulas. No entanto, ele nem sempre tem disponíveis os recursos necessários. Às vezes o meu pai consegue comprar o pacote de dados para a semana toda, mas, quando não há dinheiro, só posso estudar um ou dois dias por semana. Além disso, o telemóvel não tem muita capacidade, então não posso descarregar as aplicações que preciso para as aulas. Nesses dias mais cinzentos sinto-me muito triste porque só consigo aprender e fazer os trabalhos de casa aos bocados. Por vezes os meus colegas enviam-me fotos dos manuais e dos exercícios através do WhatsApp do meu pai para não ficar atrasada na matéria.

Há alguns dias, a Ajuda em Ação entregou-me um tablet com acesso à Internet para que possa assistir a todas as minhas aulas e enviar os meus trabalhos de casa completos. Estou muito feliz e agradecida pela oportunidade que a Ajuda em Ação me deu. Agora, a professora faz uma videochamada das 8h às 14h para assistir às aulas e sinto-me muito melhor porque posso aprender e conversar com os meus colegas!

Durante a pandemia, a situação em minha casa foi muito complicada porque o meu pai ficou desempregado logo no início desta crise. O comércio e o turismo tiveram de encerrar e muitas pessoas das aldeias aqui perto ficaram sem trabalho. O meu pai tinha algumas poupanças, e é com elas que estamos a contar enquanto enfrentamos esta emergência. Ele é a pessoa mais maravilhosa da minha vida, amo-o muito porque sempre tomou conta de mim e ajuda-me com os meus trabalhos de casa!

Eu gosto muito de viver no campo porque posso desfrutar da natureza e dos animais. Gosto muito dos cachorrinhos, das vacas e dos cavalos. Há alguns anos, o meu pai tinha uma vaca e uma vez pus-me em cima dela, mas de repente ela desatou a correr e eu caí! Esse dia foi muito divertido! Também tivemos um pequeno bezerro a quem chamávamos “coelho”, porque tinha umas orelhas muito grandes e a cauda cortada. Temos ainda uma pequena horta, o que é muito bom porque temos sempre alimentos saudáveis para comer e assim durante a pandemia não temos de ir até à vila para comprar alimentos.

Quando for grande quero ser médica, porque gosto muito de ajudar as pessoas. Por isso, a todas as crianças e jovens do nosso país, peço que fiquem em casa, se quiserem brincar façam-no com os seus animais de estimação ou com as coisas que tenham em casa, para não ficarem doentes e contagiar as suas famílias. E a todas as pessoas do nosso país, peço-lhes que cuidem da natureza, que não deitem lixo para os rios porque podem contaminar os animais que bebem essa água e que não queimem a floresta, pois lembrem-se: o campo é vida!

Obrigada.
Com carinho, Danna Sofía Morales.