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Escolas resilientes e preparadas para um mundo em crise

04-11-2020 Leitura 3 Minutos 3

Ajuda em Ação

No conceito de crise familiar às ONG, o conceito de resiliência está muito presente. Uma resiliência que, em termos sociais, define a capacidade das comunidades e indivíduos se recuperarem e ultrapassarem situações de adversidade de todos os tipos. Sabemos que são as sociedades com melhores níveis de educação quem melhor consegue superar os obstáculos. Por esta razão, nas ONG dedicamos um grande esforço para fortalecer a resiliência das comunidades e dos sistemas educativos. Reivindicar nestes momentos um conceito de escolas resilientes parece-nos, na Ajuda em Ação, muito apropriado, sobretudo na hora de contribuir para a construção conjunta de um modelo que responda aos desafios globais que nos preocupam. A resposta não pode ser adiada por mais tempo.

Um modelo educativo resiliente numa crise como a daCovid-19 deve permitir garantir com relativa segurança a continuidade do processo educacional para todos os alunos, tanto de forma remota como presencialmente.

Escolas resilientes: as suas características

#1 Inclusivas

Neste sentido, o primeiro objetivo deve passar por assegurar que o foco é colocado nos grupos mais vulneráveis e em não deixar nenhum aluno para trás. Por isso, as escolas resilientes devem ser abertas, inclusivas e livres de todo o tipo de barreiras de acesso, permanência e de continuidade dos processos educativos.

Isto, no contexto atual, significaria que os planos de regresso ao ensino virtual deveriam responder às necessidades que já ficaram patentes há meses atrás: as de conectividade, as alimentares (ajudas de refeição), mas também as de acompanhamento e reforço. Tudo isto sabendo que serão as famílias com pior situação económica quem, num possível regresso à escola virtual por encerramento ou confinamento, terá maiores dificuldades para acompanhar o progresso educativo dos seus filhos, quer por falta de infraestruturas digitais ou capacidades, quer pela impossibilidade de conciliar a sua vida profissional com a familiar.

#2 Seguras

O elemento da segurança também está presente nas escolas resilientes. Em contexto de pandemia, significa não apenas a aplicação de medidas sanitárias, mas também de medidas promotoras de uma cultura de paz. Isto implicaria levar a cabo atividades de sensibilização e consciencialização que transformem os alunos, inclusive os mais novos, em cidadãos ativos no combate à pandemia e não, como infelizmente já estão a ser vistos em debate público, como propagadores do vírus.

#3 Conectadas

Ensino virtual e presencial em tempos de COVID-19Outro elemento crucial é a conectividade. As escolas devem estar conectadas ao mundo e à sua comunidade. Aqui o digital ganha maior relevância com medidas focadas, de novo, nos alunos mais vulneráveis. Isto implica dispor de uma conexão digital adequada, que é já algo básico a nível presencial, mas que, em caso de confinamento ou quarentena, deve permitir assegurar a continuação do processo educativo de forma virtual, transformando-se num elemento fortíssimo de resistência. Para isso, não basta fornecer a infraestrutura digital a docentes e alunos – com tablets, ligação à Internet e plataformas virtuais seguras e gratuitas -, é também necessário apostar na formação contínua da comunidade educativa e na adaptação dos conteúdos a este novo formato. Este não é um processo que se faça da noite para o dia e é necessária uma aposta forte a longo prazo por parte das administrações.

Mas, a ligação ao mundo não pode ser apenas digital: implica a ligação da escola com a sua comunidade. No debate público, a comunidade educativa (em especial os alunos) têm tido pouco espaço de participação na hora de apresentar as suas necessidades. Devem estabelecer-se canais de participação interna adaptados às diversas faixas etárias, mas também conectados ao exterior. Um sistema educativo resiliente deve ter uma plataforma de escuta permanente entre a administração educativa e as escolas.

#4 De qualidade

Por último, as escolas resilientes devem oferecer uma educação relevante. Isto passa por dar particular atenção à incorporação – em currículos e programas – dos conhecimentos e novas competências necessárias, como os conteúdos digitais e tecnológicos. Mas também outros conteúdos como os ambientais ou os de cidadania e sempre muito orientados para o acesso e criação de oportunidades reais para alcançar um emprego decente e a autonomia.

Para isso, a formação de docentes deverá ser permanente. Mas também é fundamental manter intacta a sua motivação, o que implica, por exemplo, não os deixar indefesos perante a emergência sanitária. Olhando para a lista de medidas que estão a ser aplicadas pelos docentes para garantir a sua segurança e a dos seus alunos, a questão que se impõe é: como é que o vão conseguir se não há grandes contratações, de forma a não só diminuir o rácio de alunos por professor, mas também para que possam dar uma maior atenção a quem mais necessita.

É tão urgente como importante não perdermos mais tempo na transformação das nossas escolas em espaços que não deixem ninguém para trás e que deem resposta aos desafios globais que se nos impõem.