A ajuda humanitária é uma das nossas linhas de trabalho e, ao contrário do que se possa pensar, não se trata de algo que seja ativado exclusivamente quando ocorre alguma catástrofe. Antecipar os riscos existentes ou ter a capacidade de lidar com os riscos futuros é fundamental para mitigar as consequências de uma emergência.

Nas zonas semiurbanas e rurais do  planalto boliviano, onde a população é maioritariamente indígena, são inúmeros os riscos com que se deparam os seus habitantes. As alterações climáticas são a principal ameaça para as famílias de agricultores aymaras com que trabalhamos, que temem que uma geada, uma tempestade de granizo ou um deslizamento de terras arruínem, uma vez mais, as suas plantações de batatas ou quinoa.

Contudo, a população, de forma geral, não está consciente dos outros riscos que enfrenta, aqueles a que chamamos de “ocultos”. Trata-se de riscos que foram identificados pelo “Consórcio Resiliência” que formámos em conjunto com a World Vision, a FAO e a UNICEF nos municípios bolivianos de San Pedro de Curahuara, Sica Sica, Umala e Papel Pampa. Segundo Gonzalo Vega, técnico do projeto, os riscos ocultos nesta região surgem como consequência de eventos adversos que obrigam as comunidades a migrar para cidades intermédias. “Se falamos de riscos ocultos para as populações rurais e periurbanas do  planalto boliviano, o nosso trabalho permite-nos identificar várias: a violência por razões étnicas, a violência de género, o bullying ou a falta de serviços são as mais destacadas”.

A escola como protagonista frente ao risco


Neste contexto e dentro do nosso trabalho de criação de escolas resilientes, identificámos as escolas como o foco principal do trabalho de prevenção, mitigação e gestão de riscos. Através do nosso projeto, um total de 80 docentes de áreas rurais aprenderão conceitos, normas, procedimentos e ferramentas que garantam a segurança e os direitos dos alunos nas suas escolas.

Escolas resilientes na BolíviaMas porque é que a escola é tão importante para a gestão de riscos? Em contextos como aqueles em que trabalhamos, em áreas rurais e periurbanas do  planalto boliviano, são os professores que estão à frente da comunidade educativa, essencial para o desenvolvimento de toda a população.

“Os professores são responsáveis, num primeiro momento, por organizar as crianças e as suas famílias caso ocorra algo na comunidade. Com esta formação, os docentes saberão como criar e gerir planos de evacuação não apenas para as crianças na escola, mas para toda a comunidade.”

Mas não se trata apenas disso. Os professores ocupam um lugar muito importante na comunidade durante muitos anos. Proporcionar-lhes esta formação terá, sem dúvida, repercussões na sustentabilidade do projeto e, consequentemente, na segurança da comunidade.

Uma vez concluído o processo de capacitação, os professores replicarão estes conteúdos adquiridos no seio da comunidade educativa. “Desta forma, integramos os professores e os alunos, bem como as suas famílias, todos em coordenação direta com as Direções Distritais de Educação da Bolívia e outros organismos oficiais”, assegura Gonzalo.

Planos para um regresso às aulas seguro com o risco acrescido da Covid-19


Como referimos no início, o modelo de escolas resilientes e digitais é uma das máximas do nosso trabalho no que à educação diz respeito. Fazer frente de uma ou outra forma perante adversidades como a da Covid-19 depende em grande medida do trabalho de gestão de riscos previamente realizado.

Formação na Bolívia para gestão de riscosNa emergência da Covid-19, a Bolívia foi um dos países da América do Sul mais afetado pelos seus efeitos. As escolas estão encerradas e a previsão é de que não voltem a abrir até fevereiro (o verão no hemisfério sul começa em dezembro). Os professores com quem trabalhamos nestas formações têm, portanto, pela frente tempo suficiente para trabalhar num plano consistente para um regresso à escola seguro.

“As famílias estão muito preocupadas com o momento do regresso às aulas, mas também com a perda das suas poupanças como resultado de uma longa quarentena. Também temem não possuir os recursos suficientes para o relançamento da economia ou não serem capazes de garantir as suas necessidades mais básicas.”

Na Ajuda em Ação, além da segurança dos alunos no regresso às aulas após tantos meses de ausência, preocupa-nos que possa surgir um possível aumento do absentismo escolar. Contar com escolas preparadas para situações de emergência assegura o cumprimento dos direitos das crianças, um dos principais focos do nosso trabalho.

*Este artigo foi publicado originalmente em espanhol, no site da Ayuda en Acción. Pode lê-lo aqui.