A Ajuda em Ação trabalha há 39 anos para erradicar a pobreza e a desigualdade, ajudando a melhorar a nutrição, saúde e educação de quase dois milhões e meio de crianças e as suas famílias. Hoje, opera em 20 países da América Latina, África e Ásia e também em Espanha e Portugal.
A Ajuda em Ação está presente em Moçambique há 15 anos com projetos ligados à educação, alimentação e agricultura, em parceria com organizações locais.
Quais os principais desafios que já enfrentava este país na área da saúde?
Moçambique é um dos países menos desenvolvidos do mundo (o seu Índice de Desenvolvimento Humano coloca-o na posição 180, entre todos os países). Entre os muitos desafios que enfrenta, o acesso à saúde é um dos mais importantes. E não é um desafio único de Moçambique, mas um problema comum no continente. Faltam médicos em África, existindo um para cada 10.000 pessoas. E não nos referimos apenas a médicos, há falta de pessoal de saúde em geral, pois muitas estruturas básicas de saúde também não têm pessoal suficiente (parteiras, enfermeiros, médicos da comunidade). Ou seja, a resposta primária de qualidade e a base da cobertura universal de saúde, está longe de ser alcançada.
Na província norte de Cabo Delgado, uma das mais pobres do país e onde trabalhamos, algumas das principais são:
- Transporte: 70% da população moçambicana vive em zonas rurais e com difícil acesso ao sistema de saúde. Na vila de Nanjua (Cabo Delgado), por exemplo, os habitantes precisam de caminhar mais de 30 minutos para chegar ao centro de saúde mais próximo, onde os recursos também são muito limitados. Para intervenções maiores, o centro mais próximo fica a mais de uma hora de distância. Nem autocarro nem carro... Os pés são o único meio de transporte na área.
- Cuidados insuficientes: uma vez no centro de saúde, a falta de equipa e recursos obriga os pacientes a esperarem horas. Visitar o médico às vezes significa passar um dia inteiro fora de casa, o que significa deixar de lado a creche, a casa, o gado ou o campo, um luxo que poucas famílias podem pagar.
- Acesso a medicamentos: medicamentos básicos como analgésicos ou relacionados à diarreia ou malária geralmente estão disponíveis nos centros de saúde por um preço elevado.
- Peso da medicina tradicional: como indicado pela ministra da Saúde do país, Nazira Abdula, 90% da população recorre à medicina tradicional e não a um hospital. Muitas pessoas confiam a sua saúde aos curandeiros e só vão ao hospital quando a sua situação é crítica, o que só agrava os altos índices de malária, tuberculose e HIV, as três doenças que mais causam mortes neste país.
Há mais de 15 anos, que a Ajuda em Ação trabalha em Moçambique para melhorar as condições de saúde de milhares de pessoas. Assim, parte de nossa intervenção concentra-se no apoio a alimentos, bem-estar, higiene e acesso à água e saneamento, principalmente para mulheres e crianças em situações vulneráveis.
Outras respostas de emergência
Em 2019, começámos também a trabalhar para responder aos ciclones Idai e Kenneth, o duplo cenário de emergência que as Nações Unidas já relacionaram com o impacto das alterações climáticas.
Na Ajuda em Ação, conhecemos em primeira mão a realidade das comunidades e que a maioria dos habitantes são famílias agrícolas muito vulneráveis a este tipo de desastres devido aos fatores como o seu alto nível de pobreza ou os materiais das casas onde habitam.
Nos primeiros meses, distribuímos kits agrícolas compostos por sementes e equipamentos agrícolas a 500 famílias. Além disso, estamos também a dar-lhes formação acerca de técnicas agrícolas de adaptação às alterações climáticas. Construímos ainda mais de 200 latrinas familiares que ajudaram a travar a cólera na região. Estivemos também a capacitar estas famílias com práticas, atitudes e hábitos de higiene.
Hoje, continuamos a apoiar as consequências do ciclone, com projetos e apoio no terreno, sobretudo na sequência do ciclone de Kenneth, que ocorreu precisamente há um ano.
Impacto da COVID-19 em Moçambique
O número de casos são ainda baixos (10 identificados, a 1 de abril), mas adivinha-se um período difícil nos próximos meses, quando se assiste já ao fecho das fronteiras, nomeadamente com a África do Sul de onde vêm muitos mantimentos para a população.
A equipa da Ajuda em Ação encontra-se em segurança. Parte dos membros regressaram às suas casas, sobretudo a Espanha, mas mantêm-se alguns colegas em Moçambique que estão a preparar-se já para a resposta de emergência, articulando trabalho com a restante equipa, à distância, mas com a maior proximidade para que nada falte. Também em Portugal, a Ajuda em Ação, mantém contacto regular com a equipa de Moçambique para podermos comunicar e apoiar no que estiver ao nosso alcance.
As escolas fecharam e os projetos estão praticamente parados, mas o trabalho não para, há muito para fazer no apoio às comunidades que já sofrem com as consequências da pandemia, ou irão ainda sofrer.