A educação é um direito. Isto é algo que na Ajuda em Ação temos presente desde o começo do nosso trabalho, em 1981. Acreditamos também que a educação deve ser de qualidade e acessível a todas as pessoas. Além do mais, apostamos num trabalho digno, outro dos ODS, portanto, num ensino secundário de qualidade com um enfoque técnico e produtivo. Desta forma, asseguramos que os jovens de países como a Bolívia tenham um futuro recheado de oportunidades.

Rosa e Roxana: muito mais do que apenas professoras


Nos municípios de El Alto (La Paz), Sucre (Chuquisaca) e Cotagaita (Potosí) estamos a desenvolver, em conjunto o CEMSE (na Área de Desenvolvimento Territorial Sucre) e o ACLO (na Área de Desenvolvimento Territorial Cotagaita), um projeto para melhorar o direito à educação de jovens do ensino secundário. Embora o projeto seja abrangente, tem um enfoque na questão do género, uma vez que as jovens são, tradicionalmente, quem mais abandona os estudos de forma precoce e quem tem menos oportunidades de acesso a um emprego. Perante tamanho desafio, os professores na Bolívia tiveram de se reinventar de forma a motivar os jovens, sobretudo numa altura em que se teme um declínio da escolarização em consequência da crise económica gerada pela Covid-19.

Roxana: ensinar para a vida


Roxana Retamoso, professora de Técnica e tecnologia na comunidade quéchua de Totora, em Cotagaita, é uma das docentes com quem trabalhamos neste projeto. Trabalha no Colegio Técnico Humanistico Agropecuario El Porvenir B. Quando nos fala da sua profissão, os seus olhos iluminam-se: “Um dos motivos pelos quais decidi ser professora foi a convivência com os estudantes. A juventude transmite-me a sua energia, mas também sofro com eles. Confiam em mim para me contar os seus problemas e os seus feitos e é nesses momentos que tenho a certeza de que estou no sítio certo”.

Ensino técnico secundário na Bolívia

Roxana não sente que dar aulas sejam um trabalho como outro qualquer. O facto de o ensino secundário ser mais técnico permite-lhe ter uma maior proximidade com os seus alunos. Quando vão à horta, conta, aproveita para os ensinar de uma forma diferente: “ensino-lhes a fazer inseticidas e fungicidas naturais, mas também falamos de como isso pode melhorar a vida das suas famílias”. Produção de culturas hidropónicas, implementação de irrigação ténica… São tudo tarefas que normalmente eram desenvolvidas por homens. Agora, com formações como esta, pretendemos tornar o campo num lugar mais equitativo onde as mulheres sintam que possuem condições iguais às dos seus companheiros.

Rosa e a vontade de melhorar


Rosa Solís é outra das professoras que fazem parte deste projeto relacionado com o ensino técnico secundário. Trabalha na Unidad Educativa Alegría do município de Sucre. É professora de Técnicas gerais e Artes plásticas e visuais.

Rosa começou por trabalhar com crianças com capacidades diferentes. Isto motivou-a a seguir com a sua profissão, despertando sempre novas vocações e descobrindo o potencial das pessoas que ensina. “As crianças com capacidades muito diferentes deixavam-me sempre muito surpreendida: não moviam as mãos, mas conseguiam fazer muitas coisas com os pés; outros não mexiam os pés, mas conseguiam fazer muitas coisas com as mãos. Às vezes, acabamos por colocar limites a nós próprios apesar de possuirmos todas as capacidades necessárias para fazermos as coisas. Estas pessoas procuram ser alguém na vida, procuram seguir em frente, procuram a sua independência. Para mim são uma inspiração para que continue a ser professora e a despertar esse espírito de superação entre aqueles que passam pelas minhas aulas”.

Educação online durante a pandemia?


“Quando chegou a Covid-19, tive de adaptar o meu trabalho a algo que era desconhecido para todos, alunos e professores”. Roxana recorda como no início da pandemia utilizou as plataformas digitais para que os seus alunos pudessem prosseguir com os conteúdos teóricos. No entanto, nem todos tinham acesso à Internet: “os baixos rendimentos familiares nem sequer permitiam a muitos dos meus alunos adquirir um telemóvel próprio, chegando mesmo alguns deles a terem de partilhar um por uma família com cinco ou seis filhos”.

A contração das economias familiares é um problema para a digitalização destas escolas secundárias, mas não é o único: “a internet não chega a todos os lugares, sobretudo se estivermos a falar das zonas rurais”. Como outros professores noutros países, Roxana não ficou parada: “realizei atividades especiais e estou a ir pessoalmente às comunidades dos alunos que não têm acesso ao digital”.

Ensino digital durante a pandemiaRosa também assinala a dificuldade dos seus alunos para continuarem a assistir às aulas: “aqueles que conseguem segui-las estão a fazer um esforço enorme, assim como as suas famílias devido aos custos que isto acarreta”. Estes custos extra não são apenas para os alunos: “os docentes também estão a fazer um esforço pessoal, profissional e económico para continuarem a dar aulas, mas é uma alegria poder continuar a motivá-los para o seu futuro”, assegura com um sorriso no rosto.

Docentes na Bolívia: ensinar e aprender


Não podemos deixá-los para trás. Este é o lema dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, mas também o nosso, o de todas as pessoas que trabalham lado a lado com a Ajuda em Ação por todo o mundo.

“O papel dos professores não é apenas fornecer uma informação ou um conteúdo de um plano curricular. Os docentes devem ser um guia para o aluno, demonstrar afeto ao estudante, providenciar-lhe a amizade e confiança necessárias para que o aluno possa desenvolver e mostrar as suas competências. Ao nível da educação, não são só os alunos que aprendem: nós professores também o fazemos todos os dias com eles”, conta Roxana Retamoso.

*Este artigo foi publicado originalmente em espanhol, no site da Ayuda en Acción. Pode lê-lo aqui.