Coronavírus e violência de género são dois termos que já causam separadamente sentimentos como medo. Se os juntarmos, a combinação pode ser perigosa. Hoje analisamos por que, nestes dias de confinamento, se coloca a lupa na violência masculina e nas suas vítimas.

Violência masculina e coronavírus: o confinamento


O mundo vive confinado. Isto significa que a maioria das pessoas não pode sair de suas casas a não ser para o estritamente necessário. Para muita gente, o confinamento está a ser difícil de cumprir pelas implicações sociais (ou anti-sociais, neste caso) associadas. No entanto, para as mulheres que sofrem de violência de género, este isolamento obrigatório é um problema. Condenadas a viver com os seus agressores, as mulheres que sofrem de violência de género são as grandes vítimas desta situação generalizada de confinamento. Quando, para além deste aspeto, há menores presentes, a situação é ainda mais grave, pois as suas vidas estão também em perigo constante.

Dubravka Simonovic, porta-voz especial de Nações Unidas sobre a violência contra as mulheres, assinalou que “para demasiadas mulheres e crianças, o lar pode ser lugar de medo e abuso“.

Em risco, mas não esquecidas


O próprio Secretário General de Nações Unidas, António Guterres, referiu numa das suas últimas intervenções, que a desigualdade de género, aumentou ainda mais durante esta pandemia. É necessário um esforço especial para cumprir o ODS 5, relativo à igualdade de género. Para proteger as mulheres e crianças da violência, que aumenta sempre em situações de conflito e insegurança, comprometeu-se a “prevenir e retificar a violência doméstica como parte das nossas respostas nacionais e globais”.

A Comissão para a Cidadania e Igualdade de género adotou várias medidas para reforçar o apoio às vítimas em plena pandemia, entre elas, o lançamento da campanha #SegurançaEmIsolamento para que as vítimas peçam ajuda e conheçam os apoios existentes. A violência de género, afeta sobretudo a mulher vítima deste abuso ou maus-tratos, mas também se reflete em toda a sociedade. Há muitos anos que a violência masculina deixou de ser algo exclusivo da esfera privada, para se converter num problema social que todos devemos combater.

Quando esta fase inicial de isolamento devido à COVID-19 passar, será muito importante continuar a trabalhar contra a violência de género e intrafamiliar, pois é esperado que os recursos sociais para as vítimas não respondam às necessidades de uma só vez e que a fragilidade e vulnerabilidade sejam ainda maiores.

Dados sobre violência de gênero em tempos de coronavírus


As queixas por violência doméstica à GNR registadas em março deste ano diminuíram em relação ao período homólogo de 2019. Ao contrário do inicialmente assinalado esta quarta-feira numa conferência de imprensa conjunta com a PSP, a GNR registou 938 denúncias por violência doméstica, menos 26% do que em 2019. Aludindo às restrições de mobilidade e obrigação de confinamento que fazem parte do estado de emergência por causa da pandemia da covid-19, as forças de segurança reforçam a sua preocupação. Só poderemos saber os dados reais assim que este estágio inicial da crise do coronavírus terminar.

O que fazer contra a violência de género durante a pandemia de COVID-19?


Deixamos aqui algumas formas de agir se souber de um caso de violência de género ou no caso de ser a mulher que está a sofrer:

-Ligar e relatar: em Portugal tem vários números de telefone que pode contactar: como o 800 202 148 (Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género) ou o 21 358 7900 da APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima). Também pode contactar o 112 para emergências.

-Mandar e-mail ou SMS: tendo em conta o contexto extraordinário que estamos a viver há um novo serviço de mensagens curtas destinado a acudir vítimas de violência doméstica em tempo de quarentena. Funciona sete dias por semana, 24 horas por dia, não custa um cêntimo e não é rastreável, isto é, não surgirá na fatura emitida pela operadora de comunicações. Depois do e-mail de emergência — violencia.covid@cig.gov.pt —, o Governo lançou um serviço de mensagens curtas (3060), que funciona como um reforço da linha telefónica para vítimas de violência doméstica (800 202 148).

-Se não for a vítima, mas conhece uma mulher que está a ser vítima deste tipo de violência, também é importante que ligue e reporte a situação. Como dissemos antes, lutar contra a violência de género é um assunto de todos. A violência doméstica é um crime público.

-Proteja-se: encontre um local seguro em casa onde não possa ser atacado, onde você e os seus filhos e filhas possam estar seguros, se possível.

-Procure ajuda: além das redes oficiais de suporte, procure redes comunitárias. Se puder, encontre um momento seguro para contar a alguém o que está a acontecer. Os mecanismos de ajuda serão ativados para ajudá-la.

-Salve a sua vida: os mecanismos existentes para proteger aqueles que sofrem violência de género permanecem ativos, também durante o confinamento devido ao novo coronavírus. Se precisar de ser transferido para um lar ou abrigo, não tenha medo. Tome a decisão de sair do círculo de violência e salvar a sua vida e a de quem mais ama.

Ajuda em ação: agora também lutamos contra a violência de género


Na Ajuda em Ação criamos mecanismos para proteger os grupos populacionais mais vulneráveis do mundo durante a crise causada pelo impacto da COVID-19. Assim, em países como El Salvador, onde os números de violência de género são alarmantes, ativamos redes de apoio comunitário às quais mulheres, meninas e meninos podem recorrer em situações de violência doméstica. Além disso, estamos a formar instituições para responder melhor a casos de violência doméstica e de género durante o período de confinamento.